Displasia Coxofemoral (DCF)
Este texto possui termos e linguagem simples com
detalhes e informações sobre a Displasia Coxofemoral. Deixando claro que somente
médicos veterinários estão capacitados a diagnosticar e tratar a displasia
coxofemoral, isso absolutamente não impede que nós leigos possamos conhecer mais
sobre esta má formação.
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O que é Displasia Coxofemoral?
Dis=má + plasia=formação (má formação) da bacia,
que ocasiona um afrouxamento das articulações coxofemorais (encaixe da cabeça do
fêmur no quadril).
No cão saudável, sem sinais de displasia, a cabeça do fêmur está encaixada
perfeitamente na cavidade do quadril. No animal com displasia, há um desencaixe,
que provoca atrito. Com o passar do tempo esse atrito destrói a cartilagem da
articulação, essa destruição é chamada artrose.
A displasia coxofemoral canina não é o mesmo que artrite/artrose da coxofemoral,
mas é a principal causa de artrite/artrose da articulação coxofemoral.
Sinais mais comuns:
Um dos principais sinais causados pela displasia é a dor.
Por causa da dor, os animais podem começar a mancar, passam a ter um rebolado
diferente, às vezes passam a fazer o pulo do coelho, saltando com as patas
traseiras juntas. Tudo isso para evitar movimentar a articulação que dói. Alguns
começam a atrofiar os músculos dos posteriores, pois usam a força dos
anteriores, ficando até mais fortes na frente.
Em muitos casos graves, a displasia leva à incapacidade de locomoção, sendo
necessária intervenção cirúrgica.
É muito importante saber que existem muitos casos assintomáticos, onde,
independente do grau, o animal não demonstra sentir nada, anda, pula e corre
muito bem.
Como saber se um cão tem displasia coxofemoral?
Somente com a radiografia das articulações coxofemorais, realizada por um
veterinário profissional, credenciado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia
Veterinária.
Com a radiografia em mãos este veterinário verifica o grau, avalia e classifica
a articulação, dando um laudo onde constam essas informações.
A escolha do profissional é muito importante, é necessário buscar indicações de
veterinários competentes.
Pergunta muito comum: ANALISANDO A MOVIMENTAÇÃO DO CÃO, UM CRIADOR OU
VETERINÁRIO EXPERIENTE PODE AFIRMAR SE UM CÃO TEM DISPLASIA?
Resposta: NÃO!!!!! Observando o cão, sem realizar a radiografia, uma pessoa vai
estar apenas arriscando um palpite, e nesse caso há sempre cinqüenta por cento
de chance de acertar (Sim ou Não). Volto a dizer, e reforço, que existem muitos
casos de cães que se movimentam mal, mas tem excelentes articulações, assim como
existem casos de cães aparentemente perfeitos, que trotam muito bem, mas ao
serem radiografados revelam articulações severamente comprometidas pela
displasia.
Aquela história de afirmar que o cão que deita de barriga no chão com as pernas
abertas (posição de sapo) não tem displasia é totalmente equivocada, pois aquela
posição tem relação com elasticidade muscular e não com displasia. Muitas
pessoas possuem cães displásicos que deitam assim.
Só pode ter certeza que um cão não tem displasia quem submetê-lo a radiografia
da articulação coxofemoral quando adulto!
Outros métodos, porém raramente utilizados, são a tomografia computadorizada e a
ultra-sonografia. (No futuro será possível diagnosticar também por DNA)
Classificação do grau de displasia pelo método de Norberg (Aceito pela FCI):
HD- (grau A) - articulação normal / livre de displasia / isenta de displasia
HD+/- (grau B) - quase normal / próxima do normal
HD+ (grau C) - displasia leve
HD++ (grau D) - displasia moderada
HD+++ (grau E) - displasia severa
Geralmente até o HD+ ou grau C, o cão é aceito para reprodução.
Porém, um animal HD+ (grau C) é displásico e só deverá acasalar com um HD- (grau A).
O método utilizado é o de Norberg, onde se mede o ângulo da articulação e também
há uma parte de avaliação do estado geral da articulação e acetábulo.
Radiografia tradicional (Norberg) em cães jovens:
Quando há sintomas precoces de displasia, o veterinário poderá solicitar a
radiografia coxofemoral de um filhote, que resultará num laudo descrevendo o
estado da articulação naquele momento.
Caso o animal seja displásico, será tratado de imediato para amenizar os
sintomas e deverá repetir a radiografia quando adulto para acompanhar a evolução
do problema.
Caso não apresente a displasia quando filhote, deverá repetir a radiografia
quando adulto, pois displasia é um mal degenerativo, que se manifesta durante o
crescimento. Ou seja, ele poderá não ser/parecer displásico quando filhote, mas
sê-lo depois de adulto.
Pennhip – exame para filhotes a partir de 4 meses de idade
Pennhip é um método radiográfico que calcula o índice de distração (frouxidão)
da articulação coxofemoral. Esse índice mede o grau de lassidão (frouxidão)
articular que é o primeiro evento da displasia coxofemoral no animal jovem.
Mesmo no caso do pennhip com bom resultado, é necessário que se faça a
radiografia pelo método Norberg aos 24 meses para laudo definitivo.
Para facilitar o entendimento, é importante explicar a diferença que, pelo
método tradicional, até os 24 meses tem-se uma pré chapa (pré laudo) mostrando
apenas o estado da articulação no momento. Pelo método e cálculos utilizados no
Pennhip é feita uma predição se o cão tem probabilidade ou não de desenvolver a
displasia.
Tornando-se mais uma grande ferramenta para auxiliar a seleção criteriosa. É
também um importante meio de diagnóstico de cães displásicos jovens, antes dos 5
meses e meio de idade,que poderão ser submetidos a técnica cirúrgica chamada
sinfisiodese púbica (ver descrição ao final do texto).
O Pennhip é uma técnica desenvolvida na Pensilvânia e usada nos EUA há mais de
10 anos, que calcula a probabilidade do filhote desenvolver displasia quando se
tornar adulto. Pode ser realizado a partir de 4 meses de idade. Na prática é mais
útil que seja realizado em filhotes e cães jovens antes dos 2 anos de idade,
para seleção de futuros padreadores e matrizes. Depois de 2 anos de idade já é
possível realizar a radiografia pelo método Norberg para obter o laudo
definitivo do cão.
O exame mede a frouxidão da articulação coxofemoral através de posições
radiográficas, uma delas usando um distrator (um peça em formato de H), em
termos bem simples: é medido o quanto a cabeça do fêmur sai da cavidade do
quadril.
Então é feita uma sobreposição de imagens para calcular o Índice de Distração
articular (frouxidão da articulação).
Esse índice varia de 0,0 a 1,0 (zero a um inteiro).
Existe uma tabela para cada raça, mas em geral:
de 0,0 até 0,3 é um índice que indica que um filhote será totalmente livre de
displasia.
Teoricamente, acima desse índice o cão já está na faixa dos cães que poderão
desenvolver algum grau de displasia, mas não determina o grau que o cão terá
quando adulto. Na prática, existem muitos casos em que o ID (índice de
distração) 0,4 e 0,5 resultou em adultos HD (+/-). O detalhe é que grau HD (+/-)
e grau HD (+), não são totalmente livres de displasia, mas são aceitos para
reprodução.
Acima de 0,6 a probabilidade do filhote se tornar um adulto displásico é
altíssima.
O resultado do Pennhip é de grande utilidade também para planejamento mais
preciso de acasalamento, no caso de macho e fêmea que tenham feito o exame
quando filhotes.
Pais sem displasia podem gerar filhotes com o mal?
Infelizmente é isso mesmo. Ao contrário de atributos de natureza genética como
cor dos olhos, a displasia é poligênica. Isso significa que há vários pares de
genes envolvidos no processo o que dificulta consideravelmente o trabalho de
"limpeza" do pool genético do mal.
Isso é apenas MAIS UM MOTIVO para os criadores procurarem trabalhar SÉRIO dentro
do seu programa com essa questão. A experiência dos criadores de Pastor Alemão
mostra que em 5 ou 6 gerações de seleção séria (somente cruzando cães com laudo
NEGATIVO de displasia) aumentaremos sensivelmente as chances de produzirmos cães
sem problemas.
Assim, não basta uma geração para garantir filhotes livres do problema. Por
outro lado, esse fato não é justificativa para os criadores não iniciarem um
trabalho sério quanto a esse assunto. O trabalho precisa ser feito, e sempre
começa por não cruzar cães com displasia. Quanto mais se seleciona o plantel,
maiores as chances de produção de cães livres do mal.
Quanto mais gerações anteriores controladas, menores as chances de nascerem cães
com displasia.
Na hora de comprar um filhote:
Se você está pensando em comprar um filhote, em
primeiro lugar, procure canis que se mostrem preocupados com a saúde do
plantel.
Solicite ao criador os seguintes documentos:
- Laudo de Displasia Coxofemoral dos pais da ninhada
- Registros dos pais da ninhada
Não abra mão dos documentos acima, pois são indicadores de estar
comprando filhote de criação séria.
Sempre que possível, solicite ver a chapa e laudo de displasia dos pais do
filhote (note que são duas coisas diferentes, raios-x e laudo). O laudo deve ser
"A", "B" ou "C" (HD-, HD+/- ou HD+).
Não aceite desculpas e explicações, e não se deixe intimidar. Se possível evite
também laudos emitidos por veterinários que não tenham grande experiência na
área de diagnóstico de displasia. Com isso você reduz sensivelmente as chances
de comprar um filhote que venha a desenvolver problemas mais tarde. Se o criador
tiver os laudos dos avós, melhor ainda, aliás, muito melhor.
Faça a sua parte. Infelizmente todos os anos dezenas de novos proprietários se
arrependem a um preço muito alto por não terem dado a devida atenção a essa
dica.
E saiba que não é só levar em conta o preço do filhote, o nome do canil ou o
fato dos pais da ninhada serem "famosos". Você deve solicitar ver a radiografia
e pedir cópia do laudo dos pais.
Evitando fatores desfavoráveis:
Quando o filhote está se desenvolvendo, não sabemos se ele herdou genética para
ser displásico, então devemos evitar fatores que podem piorar a displasia. A transmissão é hereditária, mas fatores ambientais podem agravar a displasia.
O que é prejudicial:
- obesidade;
- suplementação alimentar sem acompanhamento veterinário;
- exercícios forçados;
- permanecer muito tempo em superfície escorregadia (não é apenas liso, é
escorregadio, onde o cão sofra traumas constantemente);
- acesso livre a escadarias.
O que é benéfico:
- nadar;
- sob supervisão do veterinário, dar condroprotetores durante infância e
crescimento;
- controlar o peso;
- manter o filhote em piso adequado.
OBS: Condroprotetor: é uma nova classe de medicamentos, recomendada para
recompor o desgaste das cartilagens articulares. Estes medicamentos contêm
compostos existentes na estrutura bioquímica da cartilagem. Quando há destruição
da cartilagem as células destruídas eliminam fatores químicos que iniciam o
processo de inflamação, causando dor e mais destruição.
Os agentes mais utilizados nos medicamentos condroprotetores, são sulfato de
condroitina e sulfato de glucosamina. Podem ser administrados de acordo com a
indicação do veterinário.
Tratamentos disponíveis:
Existem tratamentos conservadores, com utilização de antiinflamatórios,
condroprotetores, exercícios, fisioterapia, homeopatia e acupuntura. Estes
tratamentos são eficientes em muitos casos, mas dependendo da severidade do
caso, seus efeitos podem ser limitados.
As outras opções são cirúrgicas, sendo que o veterinário deverá avaliar se os
benefícios destas se aplicam ao caso específico, principalmente levando em conta
que a maioria das cirurgias ortopédicas é muito invasiva e elas podem deixar
seqüelas e complicações.
Há dois tipos de conduta cirúrgica no tratamento de displasia coxofemoral: A
cirurgia profilática (que visa diminuir a progressão da doença) e a cirurgia
corretiva (que visa corrigir ou melhorar articulações que já estejam
artríticas).
Cirurgias preventivas:
- Sinfisiodese púbica: um método utilizado em cães muito jovens (até 5 meses)
para que a pélvis cresça de forma a criar uma articulação coxofemoral mais
firme.
- Osteotomia pélvica tripla: nesta cirurgia, três cortes são feitos para liberar
o acetábulo do resto da bacia. Gira-se então o acetábulo, para que ele dê maior
cobertura e coloca-se uma placa metálica para fixar o acetábulo nesta nova
posição e permitir a cicatrização óssea. Este procedimento é muito eficiente se
for feito antes do aparecimento de um grau de artrite significante.
Algumas cirurgias corretivas:
- Osteotomia da cabeça do fêmur: é uma opção para cães com alto grau de artrite.
Neste procedimento, a cabeça do fêmur é removida, deixando o fêmur "flutuar
livremente", levando à formação de um tecido cicatricial. Com o passar do tempo,
este tecido cicatricial endurece e engrossa, criando uma pseudo-artrose, ou
seja, uma "falsa" articulação.
- Substituição total da bacia: geralmente é feita em animais muito debilitados e
pesando mais de 25 kg. Um novo acetábulo e uma nova cabeça de fêmur são
implantados no cão, formando uma "nova" articulação coxofemoral. É uma cirurgia
muito difícil de ser feita, em que o cirurgião tem que ser muito habilidoso e
bem treinado.
Denervação coxofemoral: uma cirurgia menos cruenta e menos invasiva, a
denervação da articulação coxofemoral consiste na remoção do periósteo acetabular, eliminando as fibras nervosas sensitivas da região com conseqüente
promoção da analgesia.
Quando bem sucedida a denervação retira a dor, com isso ocorre a reabilitação
muscular, pois o cão passa a se movimentar com desenvoltura e fortalecer a
musculatura. Devido a maior contratura muscular a cabeça femoral fica mais firme
no acetábulo, fato que diminui a distensão da cápsula. Com a cabeça femoral mais
justa no acetábulo diminui a degradação da cartilagem, pois diminui o índice de
distração (esta última observação é a teoria de alguns especialistas).
Em casos de displasia sem grande sub-luxução (mas com sinais clínicos que a
justifiquem) a técnica pode ser aplicada como única opção.
Em casos em que já está presente grave desencaixe da cabeça femoral a denervação
é realizada em conjunto com a colocefalectomia (retirada da cabeça do fêmur).
Existem outros tipos de cirurgias, mas algumas são consideradas experimentais
até que se tenham mais dados sobre seus resultados.
Combate à displasia:
Displasia é genética, mas é POLIGÊNICA, recessiva e intermitente, por isso pode
pular uma geração (ou até mais) de cães isentos e então surgirem descendentes
displásicos.
Fatores desfavoráveis podem agravar a displasia de um cão que herdou a condição
genética para ser displásico.
Quanto maior o número de gerações controladas, menor será a chance de produzir
cães displásicos.
Fechamento exagerado de linha de sangue, ou seja, o uso da endogamia utilizada
para fixar as características das raças pode contribuir para fixar problemas
genéticos como a displasia, se esta estiver presente naquela linha sangue.
O que se fala de displasia adquirida, vem de tempos em que nem se sonhava com
DNA, pesquisas genéticas, etc. "Displasia não é uma questão de opinião, é uma
questão científica." (frase de Claudiano, do Totem American Bulldogs).
Hoje em dia existe falta de informação, e erro de interpretação, ao confundir o
fato de que nutrição e manejo podem agravar, mas NÃO CAUSAR displasia. Não
existe displasia adquirida, ela só vai se manifestar se o cão tiver herdado
genética para tal degeneração.
Segundo Dr.Luis Renato Veríssimo de Souza (Vice Presidente da Associação
Brasileira de Radiologia Veterinária) é imprescindível a conscientização de
criadores e proprietários de que o combate a displasia coxofemoral só é possível
através da seleção criteriosa de machos e fêmeas radiografados. Em contato com
radiologistas renomados de todo o país ele pode perceber que já ocorre sensível
melhora nos resultados, especificamente de criações com controle rigoroso de
várias gerações.
Algumas informações obtidas no Congresso da FCI Américas Caribe 2005:
Dra. Margarita Duran, afirma a mesma conclusão científica sobre hereditariedade e
genética da displasia (coxofemoral e cotovelo), menciona a influência
multifatorial que só afetará o animal que tiver a condição genética para tal má
formação.
Margarita aposta muito no futuro estudo do genoma canino, para que sejam criados
exemplares mais saudáveis.
Quem é a Dra.Margarita Duran:
Membro do Comitê Científico da FCI;
Membro do comitê de diagnósticos de displasia da FCI;
Palestrante em conferências em países da Europa e America;
Radiologista Oficial da Soc. de Cães Pastores Alemães do K.C.Uruguay desde 1988;
Trabalha há 12 anos junto ao Dr. Wilhelm Brass em diagnóstico da DCF;
CONGRESSO DA FCI- AMÉRICAS CARIBE 2005
Palestra sobre displasia, no Congresso FCI Américas Caribe em 2005.
Segundo Dr.Edgar Sommer, fatores multifatoriais só afetarão cães que tenham
herdado a condição genética da displasia. Ou seja, fatores multifatoriais podem
piorar, e não causar a displasia coxofemoral, pois a transmissão é
hereditária.
Currículo do Dr. Edgar Sommer:
Formado pela Faculdade de Medicina Vet. da Universidade Federal do RGS;
Sócio do PROVET (primeiro Centro de Diagnósticos e Especialidades Veterinárias
do país), sob sua supervisão estão os departamentos de Radiologia,
Ultra-sonografia e Ecodopplercardiografia;
Aprimoramento em displasia com prof. Dr. Wilhelm Brass - Escola Superior de
Medicina Veterinária de Hannover - Alemanha;
Diretor pela América do Sul do International Veterinary Radiology Association;
Membro do International Elbow Working Group;
Membro do comitê de Julgamento do CBRV-Colégio Brasileiro de Radiologia
Veterinária para a avaliação radiográfica de DCF canina do Brasil;
Médico Veterinário 2001 pelo CRMV-SP;
Presidente da V Conferência Sul-americana de Medicina Veterinária 2005/Riocentro;
Há 30 anos como radiologista privado.
Para escrever este texto, Eliane Magaldi consultou os seguintes sites:
www.redevet.com.br/artigos/dcf1.htm
www.veterinariaonline.com.br/especialidade.php?cd_artigo=27
www.pennhip.org
www.terra2.com/xoops/modules/smartsection/item.php?itemid=27
Eliane Magaldi
eliane.magaldi@gmail.com
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