A sarna demodécica
ou sarna negra
em cães é causada pela proliferação oportunista do ácaro Demodex
canis, resultante de uma deficiência imunológica. O Demodex
canis está
naturalmente presente em muito pequeno número na microbiota da pele,
e só vai
ocorrer a doença quando o ácaro se proliferar
desenfreadamente (veja imagens abaixo). O ácaro ataca o folículo piloso
causando inflamação, queda do pêlo e lesões cutâneas.
Demodex canis
Quando essa deficiência imunológica
é herdada dos pais, geralmente a doença se manifesta de forma
generalizada, apresentando sua forma mais grave, como uma
dermatite crônica, com infecções secundárias. Ou pode ocorrer
por outros fatores que causem depressão do sistema imune, nesse
caso a doença geralmente se manifesta de forma localizada e
muitas vezes
com cura espontânea.
A transmissão
do ácaro se dá pelo contato. Porém, como o ácaro permanece abaixo da epiderme,
o contato deve ser estreito e prolongado para que haja transmissão, como no caso da amamentação da ninhada em que o ácaro passa da mãe para os filhotes. Alguns experimentos comprovaram que não há transmissão intra-uterina e nem na passagem pelo canal vaginal, sendo que, após o nascimento e início
da lactação, em um período entre 8 e 18 horas todos os filhotes
já apresentam o ácaro na região do focinho. Essa transmissão do
ácaro da mãe aos filhotes é absolutamente normal e não implica no desenvolvimento da
sarna demodécica.
Há pouco tempo, a sarna demodécica era considerada uma doença hereditária. Atualmente sabe-se que a questão da hereditariedade está ligada a uma deficiência do sistema imunológico, passada dos pais para os filhos. Mais especificamente, à produção de um tipo de linfócito (glóbulo branco) que tem um importante papel no sistema imune.
Essa limitação do sistema imunológico poderá levar ao desenvolvimento da sarna demodécica e de outras doenças.
Independentemente de sua herança genética, e da qualidade do seu sistema imunológico, outros fatores de estresse poderão levar um cão para um quadro de imunossupressão, e para o desenvolvimento da
sarna demodécica. O hipotireoidismo, algumas neoplasias ou uma forte infestação
de vermes são bons exemplos. O uso prolongado de corticosteróides, por sua característica imunossupressora,
também tem sido associado a casos de sarna demodécica.
Forma Localizada
As lesões
ocupam áreas reduzidas e descontinuadas, caracterizadas pela
perda de pêlos e vermelhidão, observadas com maior freqüência na
cabeça, pescoço e extremidades dos membros. Não são freqüentes coceira
ou infecções secundárias. Em geral, apenas tratamento tópico
permite rápida cura, sendo que a maioria dos casos tem cura espontânea,
natural. Em alguns casos pode ocorrer evolução para a forma
generalizada da doença, por isso é importante o diagnóstico
precoce e acompanhamento do quadro clínico pelo veterinário.
Forma Generalizada
É a forma grave
da doença e, na maioria dos
casos, é decorrente de uma predisposição hereditária à deficiência imunológica.
Cães acometidos com esta doença tendem a manifestar lesões na pele de maneira generalizada, por toda a vida, ciclicamente.
A doença se
apresenta como uma dermatite crônica. A coceira é intensa e o
coçar contínuo irrita a pele tornando-a uma porta aberta a infecções secundárias por bactérias e fungos.
O aumento da atividade bacteriana e secreção sebácea predispõe à formação de bolhas de pus. Há
queda de pêlo em áreas maiores, com descamação, formação de
crostas e manchas. Poderá ocorrer inflamação dos gânglios, febre
e perda de peso.
Para obtermos sucesso no tratamento, deveremos considerar os fatores predisponentes ao aparecimento da doença, como por exemplo: o ciclo hormonal, gestação, amamentação, stress, verminoses, uso de corticóides e enfermidades debilitantes.
Na maioria dos casos há reincidência da doença após algum tempo.
Dessa forma, um cão, macho ou fêmea, que tenha demonstrado
incapacidade imunológica para o controle do Demodex canis, não poderá ser empregado na reprodução,
devendo ser preferencialmente castrado, pois essa deficiência é, comprovadamente, transmissível aos seus descendentes.
Não é possível interromper totalmente a manifestação da doença, apenas minimizar os episódios com tratamento,
geralmente ocorrendo piora ou recidiva dos sintomas em fases que ocorra queda no sistema imune (cio, vacinação, stress,
etc.). Em fêmeas, a castração pode ajudar no controle da
manifestação da doença devido a suspensão do cio.
Há relatos de
animais sadios, irmãos, sobrinhos ou mesmo netos de animais
doentes, que tiveram filhotes com a doença, deixando evidente
a herdabilidade dessa deficiência imunológica e tornando ainda mais importante o controle e
conscientização dos criadores. Sempre que a doença aparecer em
diferentes cães com algum parentesco é preciso
ter cautela.
Quais os sinais
clínicos?
Se não for
diagnosticado e tratado precocemente, evolui para:
Diagnóstico
Extremamente simples, bastando observar o parasito no microscópio. O veterinário suspeitará deste tipo de sarna em função da
avaliação do paciente.
Deve ser feito
o exame parasitológico de raspado cutâneo, chamado simplesmente de
raspado. A presença de ácaros em sua forma adulta, jovem
e ovos, em grande número, permite identificar com precisão a doença.
Nenhum médico veterinário pode fechar o
diagnóstico sem o exame pois as lesões podem ser muito
semelhantes a inúmeras outras doenças.
O raspado
consiste em, com uma lâmina de bisturi, raspar profundamente a
pele do animal onde a lesão seja mais intensa, colocando esse
material raspado sobre uma lâmina de vidro e então analisar em
microscópio, constatando a presença de vários ácaros em seus diversos estágios de desenvolvimento, por campo de observação.
Só então poderá ser diagnosticado o quadro de sarna demodécica.
O médico
veterinário pode solicitar repetição do exame caso o resultado
lhe pareça duvidoso. É imprescindível que o
raspado seja feito antes do início do tratamento, afinal
o tratamento vai tentar combater esses ácaros de Demodex
canis e é
preciso encontrar vários para fechar o
diagnóstico da doença.
Para descartar
a hipótese da doença ter sido herdada, deve-se pesquisar outras
doenças que causam depressão do sistema imunológico e assim permitem o parasitismo deste agente oportunista
(como a Leishmaniose), pesquisar se ocorreram outros casos da
doença em parentes, e também ter certeza de que a doença não
apareceu outras vezes, mas somente por oportunismo a outra
doença presente.
Tratamento
É
imprescindível a orientação e acompanhamento do médico
veterinário.
Na forma localizada
costuma ser suficiente o tratamento tópico, prolongando-se até que os ácaros tenham desaparecido. Se for acompanhada de infecção, pode ser necessário o uso de antibióticos.
Na forma
generalizada da doença, o tratamento deverá ser tanto externo
quanto sistêmico (de todo o organismo), geralmente de longa
duração. O veterinário irá indicar o tratamento que julgar mais
adequado de acordo com o quadro do paciente. Geralmente são
receitados
produtos de uso tópico para combater o ácaro, assim como
antibióticos para combater infecções bacterianas secundárias. Se
julgar necessário, poderá receitar
vermífugos, suplementos, estimulantes do sistema imunológico,
etc.